terça-feira, 10 de setembro de 2024

A Frase (226)

 A paixão pelo jogo político, um Governo pouco atento à comunicação e algum jornalismo com défice de análise crítica puseram-nos por estes dias com uma carga fiscal da ordem dos 100% do PIB.  (Helena Garrido OBSR)

Como o Governo o enviou [orçamento] para o Parlamento atrasado e isolado e, dessa forma, para o espaço público, sem qualquer explicação ou contexto, de repente fomos confrontados com uma receita de impostos que atingia praticamente o valor do PIB que se pode prever para 2025. Era óbvio que isso não podia ser, o que não impediu que acabasse por ser essa a mensagem, com alguns títulos a apontar para um crescimento da receita de impostos da ordem dos 20% e até com a oposição a usar meias verdades para utilizar esse número. (...)

Claro que nem todos os jornalistas cometeram o erro de transformar aquele valor em impostos, nomeadamente entre os jornais especializados como o Negócios e, nos generalistas, como no Observador, que contou com o olhar da editora de Economia Alexandra Machado. O alerta que isto nos deixa, a nós jornalistas, é para a importância da especialização no jornalismo. (...)

No vício dos diretos, que contaminou também os jornais através dos sites, corremos o risco de nós, jornalistas, nos transformarmos em papagaios, em pés de microfone, perdendo-se o papel de intermediação fundamental para o escrutínio, a confirmação e a análise critica da informação. (...)

Claro que os protagonistas políticos poderiam contribuir para reajustar a informação do Quadro sobre a Despesa Pública, mas a oposição está pouco interessada nisso. Neste caso concreto, o deputado socialista António Mendonça Mendes, que foi secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e por isso tem, em princípio, conhecimento do que significa aquele quadro orçamental, optou por dramatizar em vez de esclarecer.

Governo e partidos da oposição deveriam saber que o caos informativo não beneficia ninguém e não deviam contribuir para notícias que, não sendo factualmente falsas, induzem as pessoas e alguns jornalistas em erro. (...) Mas é assim que se vão alienando os eleitores em particular, e os cidadãos em geral, que já nem parecem ouvir. Porque se tivessem ouvido estariam em pânico com receitas de impostos iguais ao valor do PIB.   (texto completo)

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