Imagine que o primeiro-ministro David Cameron, num dia decisivo para o futuro político e económico do Reino Unido, resolvia abandonar a Câmara dos Comuns logo no início do debate. Não por motivos de saúde; não porque alguém resolvera declarar guerra ao país; mas porque, simplesmente, tinha mais que fazer do que aturar o Parlamento. O que diria a ‘inteligência’ britânica do caso? E o que diria o cidadão comum?
A pergunta é absurda porque o cenário é impensável: nenhum primeiro-ministro de um país com tradição democrática e liberal sobreviveria ao gesto. Em Portugal, pelo contrário, o gesto não é apenas normal; é, suspeita minha, compreendido e apreciado pela selvajaria dos nativos.
Os mesmos que sempre tiveram pelo autoritarismo do ‘chefe’ a admiração própria dos escravos. É por isso que, depois de seis anos de abuso e ruína, é precoce decretar o óbito de quem nos enterrou vivos. José Sócrates não nasceu do nada; ele precisou de uma cultura iliberal para crescer e prosperar. E que não se apaga da noite para o dia.
(João Pereira Coutinho,CM)
No contexto político em que nos encontramos, torna-se cada vez mais difícil encontrar uma luz, por pequena que seja, que nos permita alguma esperança. Parece estarem todos de cabeça perdida , não vislumbramos um fio condutor coerente que nos tire do atoleiro em que Sócrates nos meteu.
Será que Cavaco Silva conseguirá surpreender-nos com um qualquer 'golpe de génio'? - penso que podia ser uma das poucas saídas que nos daria alguma esperança.
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