quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Risco De Implosão ... Da Classe Média


Há muito que se discute e antecipa o declínio da classe média. Depois de séculos a funcionar como base da sociedade ocidental, de alimentar o ‘baby boom' e o Estado social, de contribuir para a produção industrial e riqueza das nações, a chamada classe média acabou enredada nas suas próprias armadilhas. Viciou-se no consumo e ficou refém do crédito que a deixou sonhar com o luxo de adquirir uma mala Louis Vuitton ou um fato Prada, dormir em hotéis de cinco estrelas ou viajar em primeira classe. Isto quando, na realidade, os seus recursos só lhe permitem levar uma vida carimbada por marcas ‘low cost': mobilam a casa com Ikea, enchem o carrinho de compras de lojas ‘hard discount' com marcas próprias, viajam em EasyJet. É uma revolução que, depois de alimentar as aspirações da classe média, começa agora a esvaziá-la. Só que, ao contrário do que eram as suas ambições, não há uma transferência para as classes altas - há antes uma descida à base da sociedade.
É uma massa imensa de pessoas, desiludidas, insatisfeitas, sem emprego ou recursos, que se dilata enquanto a classe média encolhe. Os remediados são agora cada vez mais pobres, cada vez mais distantes dos ricos. E o facto de esconderem essa pobreza, por vergonha ou necessidade de sobrevivência, torna-os invisíveis à sociedade. Em risco de implosão, como avisa Elísio Estanque. Uma classe média capaz de gerar riqueza tem sido a força do país. E agora corre o risco de ser a sua fraqueza.

Helena Cristina Coelho (Económico)

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