Esta é a verdade:
Portugal não soube viver no euro, não soube aproveitar as vantagens de um projecto político solidário entre os países mais ricos e os mais pobres, que transferiu milhares de milhões de euros de fundos comunitários. Não soube aproveitar uma zona monetária única que significou uma redução brutal dos juros, para o Estado, para as empresas e para as famílias. Gastámos essa almofada e as outras, as que resultaram de empréstimos dos credores que acreditavam que nenhum dos Estados do euro poderia entrar em ‘default', mesmo que tivesse as suas contas públicas e externas completamente desequilibradas. Esta crise acabou com esse mito. E nem sequer vale muito a pena insistir na tese de que a crise financeira começou nos EUA, no ‘subprime'. Isso servirá para a história. Apenas.
Que é feito do génio? |
E agora? A pergunta ...
Queremos continuar no euro? É esta a questão que está subjacente à refundação do memorando de entendimento.
As implicações da resposta ...
A resposta a esta pergunta vai dizer-nos qual é a dimensão da reforma do Estado e qual é o regime económico que queremos aceitar e estamos dispostos a fazer. Para nos mantermos no euro, temos de mudar de vida, rapidamente. Simplesmente, não será possível financiar um défice externo e um défice público sem credores que não acreditem na solvência do País, mas também não será possível reduzir esses desequilíbrios com um desemprego a crescer e uma situação social de pré-ruptura. Para reequilibrar as contas externas e públicas, é preciso outro País, outra Constituição, outro regime económico, outro contrato social. Claro, se estivermos dispostos a sair do euro, os desequilíbrios vão ter de ser corrigidos na mesma, com outras consequências, com outras receitas, e num outro tempo. Consequências, receitas e tempo piores, muito piores. Porquê? Porque agora há uma ‘troika' que nos impõe um ritmo mas garante um financiamento que paga os nossos défices, fora do euro nem isso teremos, estaremos entregues a nós próprios.
Entretanto ...
O Governo e os partidos da coligação, por um lado, e o PS, por outro, bem podem entreter-se a discutirem responsabilidades. Quem vai ficar mal na fotografia? Todos. A emergência é tão urgente que a realidade vai ultrapassá-los, e os portugueses não lhes perdoarão a incapacidade de se entenderem para reformar um Estado que não pode ser mínimo, mas tem de ser sustentável, que não pode ser um actor activo nos negócios, mas um promotor e regulador da criação de riqueza.
António Costa, ler artigo completo no Económico
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