sexta-feira, 26 de abril de 2013

E Assim Vai O País ...

 O PS situou-se (...) numa espécie de centro de gravidade do país político e institucional, razão por que nunca foi um partido reformista, apenas um partido situacionista, quando muito incremental.
Estar no centro de gravidade do país permite-lhe beneficiar de um estatuto único: o de, em última análise, ser ele, ou o que ele representa, que diz o que é ou não é aceitável na democracia portuguesa. Ao ponto de não o incomodar, pelo contrário, não conseguir formar alianças à esquerda, pois sabe que essa esquerda lhe dará força quando está na oposição, ao mesmo tempo que a direita lhe fará mimos quando estiver no poder. 


O seu domínio é tão forte que é difícil imaginar um debate que não se realize nos seus termos e com a sua linguagem. Com um Governo PS a austeridade chama-se "rigor orçamental", os défices têm a virtude de serem "investimento", recentemente até se conseguiu que as mentiras passassem a ser designadas por inverdades. As dúvidas, mesmo as mais legítimas, sobre a honestidade dos seus dirigentes são "ataques de carácter", o jornalismo de investigação é um "jogo de lama" e os cortes no Estado social nunca passam de um esforço empenhado de "racionalização". Até o autoritarismo puro e duro passa a chamar-se "autoridade democrática". 

Orwell explicou-nos, como nenhum outro, que dominar a linguagem é dominar a descrição da realidade, e que fazê-lo é controlar as mentes e os termos do debate político. As modernas "narrativas", que tanto gostam de invocar alguns dos mestres dos jogos de sombra do PS, não são mais do que a versão contemporânea e palatável do "newspeak" do romance 1984. Com uma novidade bem portuguesa: o PS nem precisa de se esforçar muito, pois o "newspeak" nacional, o "newspeak" dos debates na televisão, o "newspeak"do eterno "Prós e Prós" das nossas elites, é o "newspeak" socialista. E as excepções, mesmo quando episodicamente afloram à tona de água, apenas confirmam a regra. Os últimos dois anos são disso prova cabal - basta ver a forma como, este fim-de-semana, o país socialista entronizará um António José Seguro que, malgrado uma inabilidade homérica, conseguiu fazer dos seus temas os temas dessa coisa mole a que chamam "consenso". 

Já o disse muitas vezes e volto a repeti-lo: por muito que se elogie o pragmatismo e a arte do equilíbrio, a política não faz sentido sem ideias. E a actual maioria começou a perder no momento em que não percebeu que não lhe chegava utilizar o estado de necessidade para reformar o país, tinha de apresentar outra ideia para o país. (...)

[Já] o grande projecto socialista é contrair e manter dívidas pois, como um dia disse Mário Soares, o dinheiro "aparece sempre". Já não nos apareceu por três vezes, mas ainda não aprendemos. Há razões para festejar em Santa Maria da Feira. (continuar a ler aqui , JMF

Sem comentários: