quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Às Vezes Convinha Que A Política E A Economia Fossem Temperadas Por Um Bocadinho De História


Porque até parece que Portugal era o motor da Europa e um país economicamente pujante até ao malfadado dia em que se lembrou de aderir à moeda única. Vou contar-vos um segredo: não era. Estávamos impreparados para o euro? Sim, estávamos. Mas o euro não é a causa da nossa impreparação. Tenho imensas dificuldades em aceitar que todos os nossos problemas económicos sejam hoje atribuídos ao terrível euro e às imposições alemãs. Por uma razão muito simples e facilmente comprovável: a História de Portugal é um vasto estendal de crises e de falências, que vão muito para além do tetra-tetravô do senhor Jean Monnet e da tetra-tetravó da senhora Angela Merkel.
Alguém me indique, por favor, quando é que Portugal foi um país com finanças sãs, orçamentos equilibrados e com um superavit na balança comercial desde que D. Pedro derrotou D. Miguel, para não ir mais atrás. A resposta é: nunca. O único que pôs as contas em ordem foi António de Oliveira Salazar, cujo regresso eu dispenso, e pagando o preço do país “pobrete mas alegrete”. Não sei se alguém está interessado em transformar Portugal na Venezuela da Europa, para podermos voltar a competir internacionalmente com baixos salários e endireitar as contas do Estado através da impressão de moeda e da promoção de uma inflação de dois dígitos. Lembrem-se: cortar salários em 10% é inconstitucional, mas desvalorizar salários em 20 ou 30% já não é. (...)
Aquilo que o euro não nos permite, de facto, é mascarar as nossas fragilidades como antigamente – o euro exige a adopção de políticas mais corajosas do que telefonar para a Casa da Moeda a mandar ligar as rotativas. A afirmação de Portugal na Europa é um sonho antigo, que demorou e custou a concretizar. E é um sonho que vai muito para além da sua dimensão económica. Sair do projecto europeu é assumir a nossa absoluta menoridade. Antes outra década perdida dentro do euro do que uma década supostamente ganha fora dele. 
  Excertos do artigo de João Miguel Tavares, hoje no Público

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