De cada vez que algo acontece, as autoridades e a imprensa parecem esperar que seja menos do que “terrorismo”: um acidente infeliz, um acto tresloucado. Mas o que se passa já é mais do que terrorismo. Em vez de um problema de segurança, pode ser o começo da transformação da vida política na Europa.
A propósito da imigração descontrolada que permitiram, os governos europeus insistem em imaginar indivíduos e famílias que, uma vez nos novos países, adoptariam a sua língua e costumes: em poucas décadas, os jovens sírios seriam alemães de meia idade. Esta perspectiva é um resquício do etnocentrismo colonial. Os imigrantes não são uma simples matéria-prima humana para compensar o declínio demográfico europeu. Trazem a sua história e os seus valores. A internet e as viagens baratas mantê-los-ão ligados aos meios de origem. Depois de Bush, os ocidentais acreditaram que bastaria retirar do Iraque para fazerem do Médio Oriente um problema longínquo. Mas através dos seus migrantes, o Médio Oriente está agora entre nós.
A composição das populações europeias está a mudar. Dos residentes da Alemanha, França, e Reino Unido, mais de 12% nasceram no estrangeiro e mais de 5% são muçulmanos. Desde 1990, que a população muçulmana na Europa aumenta 1 ponto percentual por década. É neste contexto que o jihadismo na Europa faz sentido. O seu objectivo é estigmatizar estas comunidades migrantes muçulmanas, torná-las suspeitas, de modo a facilitar a sua captura ideológica. Em França (os “territórios perdidos da república”), na Bélgica e na Alemanha, já há bairros inteiros dominados pelo radicalismo islâmico. Se o jihadismo for bem sucedido, haverá reacções de nativismo e de xenofobia, como a que a Frente Nacional protagoniza em França. Teríamos, por fim, a redução da política europeia ao choque de tribos inconciliáveis.(continuar a ler)
Rui Ramos, OBSR
Sem comentários:
Enviar um comentário