quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Prémio Nobel Para Centeno . Da Economia? - Não Da Tanga !

Não, não se trata de divergência política, mas de pura e simples desonestidade intelectual. Foi a esta desonestidade intelectual que Mário Centeno recorreu para comentar o relatório da OCDE sobre Portugal. Ninguém se chateou muito com isso, porque estamos todos habituados a engolir patranhas como se fossem interpretações da realidade. Mas interpretações são interpretações. E patranhas são patranhas.

Baseado no argumento de que o défice de 2016 ficará abaixo dos 2,3%, o ministro das Finanças resolveu criticar as várias entidades que ao longo do último ano fizeram previsões pessimistas acerca do défice português. Entre as quais a OCDE. “Todas as instituições internacionais falharam nas suas previsões”, afirmou Mário Centeno. “Mas o seu erro não foram as previsões”, acrescentou ele, já no registo profético de Gonçalo Anes Bandarra. “Foi não compreenderem a essência da política económica do governo; foi não respeitar o esforço das empresas e dos trabalhadores portugueses.” Convém dizer, e redizer as vezes que forem necessárias, que isto é uma maneira extraordinária de olhar para o défice de 2016 e para a bonita arte das previsões económicas. É que a “essência da política económica do governo” consistiu em desfazer toda a estratégia que tinha vendido aos portugueses em 2014, 2015 e no início de 2016: o défice iria baixar com base no crescimento da economia.

Mário Centeno prometeu há um ano: “Vou tomar as medidas x e, com o crescimento y, vou chegar ao défice z.” As instituições responderam: “Com as medidas x, o crescimento não vai ser y, e, portanto, o défice não vai ser z.” Ao longo de 2016, confirmou-se que o crescimento não foi y e confirmou-se que as medidas não foram x. Mas como o défice, graças a vários planos B e a medidas extraordinárias, conseguiu ficar em z, Mário Centeno e António Costa dizem: “Incrível! Todos se enganaram menos nós!” Prémio Nobel para Centeno – e já. Não o da Economia, claro, mas o da Tanga.

Fonte: Artigo de opinião de  João Miguel Tavares, Público 

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