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A nudez material e emocional das vítimas choca, especialmente por sabermos das contradições e incoerências que imperam na gestão dos dinheiros públicos. Por um lado a disputa anual dos ministros pelas verbas do Orçamento do Estado é um clássico eterno, por outro a única coisa que sabemos sobre a proposta para este ano é que há uma previsão de despesa na ordem dos 211 milhões de euros para a protecção civil e incêndios, mas ninguém sabe ao certo como será distribuído este dinheiro. Ou seja, ninguém nos garante que a aposta seja a prevenção, em vez de acabarmos a gastar a maior fatia no combate aos fogos. Quanto ao Fundo Florestal Permanente, também não se sabe quanto há, para quê.
O tempo, qualquer tempo, seja de facilidade ou adversidade, também tem que ser um tempo de oportunidade. Oportunidade para repensar estratégias no sentido de fazer mais e melhor; oportunidade para agilizar processos; oportunidade para averiguar causas, reordenar prioridades e canalizar verbas. O nosso dinheiro tem que ser criteriosamente gasto com quem necessita, em tempo útil, sem demoras desnecessárias.
Assim como a luz traz sempre consigo uma sombra, também a sombra é indissociável da luz. Uma não existe sem a outra e pensei nisto quando me deparei com a história do homem que perdeu os seus quatro primos da sua idade. E quando vi como o fogo e a dor por todas as perdas extenuaram os olhos dos sobreviventes que vamos conhecendo. Todos têm os olhos carregados de sombras, mas está nas nossas mãos ajudá-los a acreditar que voltarão a ver luz.
Excertos do artigo de Laura Alves, hoje no OBSR
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