sábado, 8 de setembro de 2018

Morangos ...


No começo do amor, quando as cidades 
nos eram desconhecidas, de que nos serviria 
a certeza da morte se podíamos correr 
de ponta a ponta a veia eléctrica da noite 
e acabar na praia a comer morangos 
ao amanhecer? Diziam-nos que tínhamos 

a vida inteira pela frente. Mas, amigos, 
como pudemos pensar que seria assim 
para sempre? Ou que a música e o desejo 
nos conduziriam de estação em estação 
até ao pleno futuro que julgávamos 

merecer? Afinal, o futuro era isto. 
Não estamos mais sábios, não temos 
melhores razões. Na viagem necessária 
para o escuro, o amor é um passageiro 
ocasional e difícil. E a partir de certa altura 
todas as cidades se parecem. 

Rui Pires Cabral

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