sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Contemplo O Que Não Vejo


Contemplo o que não vejo. 
É tarde, é quase escuro. 
E quanto em mim desejo 
Está parado ante o muro. 

Por cima o céu é grande; 
Sinto árvores além; 
Embora o vento abrande, 
Há folhas em vaivém. 

Tudo é do outro lado, 
No que há e no que penso. 
Nem há ramo agitado 
Que o céu não seja imenso. 

Confunde-se o que existe 
Com o que durmo e sou. 
Não sinto, não sou triste. 
Mas triste é o que estou. 



Fernando Pessoa

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