terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Leve, Breve, Suave

Leve, breve, suave,
Um canto de ave
Sobe no ar com que principia
O dia.
Escuto, e passou...
Parece que foi só porque escutei
Que parou.

Nunca, nunca em nada,
Raie a madrugada,
Ou 'splenda o dia, ou doure no declive,
Tive
Prazer a durar
Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir
Gozar.

Fernando Pessoa (Ortónimo)

Nota: Pessoa não consegue sentir e gozar as coisas de maneira simples. Não consegue ter prazer nas coisas, porque pensa logo da perda das mesmas, racionaliza-as demasiado. É esta complexidade da sua mente, do seu raciocínio que prejudica (que cala) o que é Natural. A ave calou-se (metaforicamente) por causa da intrusão do raciocínio de Pessoa. 
(Apontamento de Lima Reis)

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