Portugal é ultrapassado por um país da União Europeia a cada ano que passa, somos agora o quarto a contar do fim e, como afirmou João Miguel Tavares na sua intervenção do Dia de Portugal, os portugueses gostariam de contar para alguma coisa.
De facto, não contam para muito, nem sequer para escolher os seus representantes no poder político, razão por que poucos votam e os poucos que votam não ganham nada com isso, apenas legitimam as escolhas das oligarquias partidárias. Também, como foi dito na mesma intervenção de João Miguel Tavares, aqueles que não fazem parte das famílias no poder, quase todos os portugueses, sofrem a exclusão do poder político e o critério do mérito existe apenas para os excecionais ou para os que vão para o estrangeiro e se libertam do poder manietador do Estado.
No seu discurso do 10 de Junho, o senhor Presidente Marcelo Rebelo de Sousa teve razão ao dizer que os portugueses, quando são bons, são muito bons. Todavia, também deveria ter dito que quando são maus, são mesmo muito maus, e daí os muitos falhanços e erros que referiu, faltando dizer que são esses maus a sua principal preocupação. São os que destruíram o nosso sistema financeiro e nem se recordam de o ter feito, são os que deixaram os portugueses arder sem qualquer defesa e são os que se aproveitam das vítimas para ganhar dinheiro. São os políticos, os autarcas e os videirinhos cujos nomes nos chegam diariamente pelos jornais, acusados de corrupção dos dinheiros do Estado.
Colocar a palavra corrupção entre as dez ou 20 questões que preocupam o chefe de Estado é melhor do que faz o Governo, para quem a corrupção não existe, mas é muito pouco para combater um flagelo que destrói a economia e corrói a democracia. É não ver que os portugueses pagam um nível obsceno de impostos e recebem um Estado que os deixa morrer nos fogos, na queda de estradas, de aeronaves, e nos corredores dos hospitais, quando não em contentores. É não ver a decadência dos transportes, os erros previstos para o sistema ferroviário, para o Metro de Lisboa, e o escândalo do SIRESP. No caso do Metro, o Governo esconde os próprios estudos que dizem justificar a chamada linha circular, como ignora o escândalo dos contratos por ajuste direto, como tem ignorado as propostas para reduzir o esbulho público das parcerias público-privadas criadas pela política demencial do Partido Socialista dirigido por José Sócrates, com a ajuda cooperante de António Costa.
Pessoalmente, gostaria de ver o Presidente da República a utilizar as suas qualidades de previsão do futuro para nos defender do futuro a que a geringonça nos conduz. Começando por dizer aos portugueses que o regime político está podre e que não vivemos numa verdadeira democracia, porque não escolhemos os nossos representantes, como acontece nos outros países europeus. Razão para a ausência de fiscalização dos governos pela Assembleia da República e pela promiscuidade dominante entre a política e os grandes e pequenos negócios.
Compreende-se que o Presidente da República defenda sobre todas as coisas a estabilidade política mas, vendo bem, para que serve uma estabilidade de cemitério, de mentira e de obscuridade que conduz os portugueses a só conhecerem a realidade nacional com a ressaca dos erros cometidos, isto é, com cinco ou dez anos de atraso.
Aproximam-se as eleições legislativas e os eleitores conhecem muito pouco, ou mesmo nada, acerca dos candidatos escolhidos pelas oligarquias partidárias. Não têm influência na sua escolha e nem podem recusar aqueles que, na presente legislatura, defraudaram o interesse público e as expetativas dos eleitores. Razão mais do que suficiente para ser esta uma preocupação fundamental do senhor Presidente da República, defendendo o texto da lei de reforma do sistema eleitoral que deve ser debatida no Parlamento por proposta da sociedade civil. Que haverá de mais importante que a qualidade da democracia?
Henrique Neto, Ji
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