terça-feira, 7 de julho de 2020

As Mudanças De Sentido De Voto Do PSD É O Espelho De Um Partido Cujas Ideias Têm A Validade De Um Iogurte

A mudança do sentido de voto do PSD no tema das creches é o espelho de um partido que parece que primeiro vota, e depois reflete. E não é caso único.
Pedro Sousa Carvalho, Eco

Vou recorrer a uma metáfora com laticínios que o próprio Rui Rio usou aquando do caso das presenças fantasma de José Silvano no Parlamento: “As minhas palavras não são como os iogurtes, que têm uma validade de 30 dias, têm uma validade prolongada”.
Se as palavras do líder do partido têm um prazo de validade longo, o mesmo não se pode dizer dos votos do PSD. A mudança de sentido de voto do PSD, no caso da redução da mensalidade das creches em função da perda de rendimentos sentida pelos pais, é apenas um exemplo de um partido que já nos tem habituado a decisões com um prazo de validade, nalguns casos, de apenas meia hora.
Um exemplo de uma decisão política altamente perecível foi o caso dos sócios-gerentes em que o Parlamento se preparava, na quarta-feira, para votar a proposta que foi vetada pelo Presidente da República quando o PS pediu a interrupção de tempo para tentar travar a repetição da maioria negativa. Uma hora depois, os trabalhos foram retomados e o PSD, nesse entretanto, mudou de ideias e deixou cair a sua proposta, substituindo-a por uma outra mais semelhante ao lay-off, mais ao gosto dos socialistas, mas menos generosa para os sócios-gerentes.
Mais grave terá sido a mudança de voto do PSD na questão da redução das mensalidades nas creches para as famílias que foram afetadas pela pandemia da Covid-19. Na terça-feira de manhã, o PSD votou a favor desta proposta do Bloco de Esquerda, mas esqueceu-se de comunicar aos pais que têm filhos nas creches que a proposta social-democrata tinha de ser consumida, preferencialmente, durante um prazo de cinco horas. Ao final da tarde, cinco horas volvidas, o partido pediu que a votação fosse repetida e resolveu então, de forma leviana, chumbar a proposta dos bloquistas que horas antes havia votado favoravelmente. Leviana porque não explicou o porquê de votar a favor e muito menos o porquê de votar contra.
Este caso não é inédito e é só mais um numa prateleira cheia de decisões políticas tomadas em cima do joelho e com um curto e embaraçoso prazo de validade. No Orçamento aprovado em fevereiro, o PSD já tinha feito algo semelhante numa proposta dos comunistas para que o rendimento dos filhos a partir do terceiro escalão deixasse de contar para o apuramento do Complemento Solidário para Idosos. De manhã fez uma coisa, à tarde outra.

Haverá com certeza várias explicações para que os frascos de compotas políticas laranjas, depois de abertas, tenham um prazo de validade curto. Alguns dirão que as posições políticas do partido evoluem e amadurecem. Outros dirão que apodrecem com o passar do tempo. Outros ainda apontarão o dedo à falta de comunicação entre a direção do partido, o Conselho Estratégico Nacional, a bancada parlamentar e o líder do partido.

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