O que choca neste momento da vida política portuguesa é a leviandade política generalizada e a grande importância das pequenas personagens.
É o cansaço, a saturação, a ansiedade no labirinto da saudade. O Budget é o assunto político do momento. Dito assim o tema parece mais sério, sofisticado, elevado, uma referência mais digna a um documento político fundamental. Mas o Orçamento é a cena do ódio em capítulos. O Governo na sua indefinição e incúria deixa o assunto entregue ao narcisismo das pequenas diferenças com o País indiferente e com o olhar fixo na pornografia do preço dos combustíveis. E o Governo perde a aderência à realidade no frenesim de tantas medidas desconexas na 25ª hora.
Há uma lição que vem desta experiência política à Esquerda e que deve ser recordada. O PS manteve-se anos afastado do PCP e do Bloco pela simples razão de que não existe em Portugal um conjunto coerente de ideias nesta área política capaz de suportar uma visão para o regime e para o País. O PS é o muro rosa que separa o Portugal democrático do aventureirismo político do Bloco e da ortodoxia do PCP.Seis anos a ignorar o assunto e o PS comporta-se como um partido falido que vai ao mercado vender o que resta do espólio histórico aos compradores monopolistas que oferecem sempre a pior oferta.
(Carlos Marques de Almeida, ECO)
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