Entender os outros não é uma tarefa que comece nos outros.
O início somos sempre nós próprios, a pessoa em que acordámos nesse dia.
Entender os outros é uma tarefa que nunca nos dispensa. Ser os outros é uma ilusão.
Quando estamos lá, a ver aquilo que os outros veem, a sentir na pele a aragem que outros sentem, somos sempre nós próprios, são os nossos olhos, é a nossa pele.
Não somos nós a sermos os outros, somos nós a sermos nós. Nós nunca somos os outros. Podemos entendê-los, que é o mesmo que dizer: podemos acreditar que os entendemos. Os outros até podem garantir que estamos a entendê-los. Mas essa será sempre uma fé.
Aquilo que entendemos está fechado em nós. Aquilo que procuramos entender está fechado nos outros.
(José Luís Peixoto)
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