sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Saiba Como Vai Este País

Luís Montenegro representa o culminar de um processo em que ficou evidente algo que, eventualmente, nem sempre foi claro para muita gente: o primeiro-ministro é um jogador hábil, que encostou às cordas o PS de Pedro Nuno Santos e, para desventura do Chega, acantonou quase 20% do eleitorado numa posição onde o seu voto não serve para grande coisa. 

Em poucas palavras, Montenegro cortou com a herança do Passismo e recolocou o PSD no centro político, roubando ao PS o papel de partido charneira do sistema. E, ao mesmo tempo, traçou uma linha divisória à sua direita, deixando claro a um certo eleitorado - que se preocupa com coisas como a alegada “ideologia de género” e a imigração dita descontrolada -, que só o voto na AD poderá mudar alguma coisa. Esta estratégia já estará a produzir resultados, tal como revelam as últimas sondagens. O que explica a necessidade que André Ventura teve de ir à televisão dizer que foi traído e enganado, como que dizendo aos seus correligionários que a sua estratégia só falhou porque do outro lado estava alguém que faltou à sua palavra.

Para o PS, ou mais concretamente para a liderança de Pedro Nuno Santos, este é um cenário complicado. A aprovação do Orçamento significa que o Governo provavelmente permanecerá no poder por mais tempo do que inicialmente previsto. E a forma como o líder geriu as negociações sobre o Orçamento foi pouco hábil. Pedro Nuno poderia ter retirado crédito pelo facto de o Governo ter cedido nas questões do IRS Jovem  e da descida do IRC, mas não o fez. Nos próximos tempos veremos, provavelmente, a oposição interna a dar um ar de sua graça, à medida que o afastamento do poder se torna cada vez mais difícil de aceitar para um partido como o PS. (Filipe Alves, DN) 

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