segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Numa Época Em Que Parece Termos Acordado A Acreditar Que A História É O Processo Irreversível Pelo Qual Tudo Se Desmorona

 Na Avenida da Liberdade desfila a nova cidade dos turistas que afluem aos cofres do Estado e da Câmara com impostos e receitas que se julgam a riqueza da nação. Na Rua do Benformoso situa-se a nova cidade dos imigrantes que afluem ao espírito do Estado e da Câmara a necessidade e o desespero que julgam a pobreza da nação. 

Entre o cosmopolitismo novo-rico da Avenida da Liberdade e o multiculturalismo pós-colonial da Rua do Benformoso está a realidade de uma Europa desconhecida do provincianismo periférico nacional. É o clássico desencontro entre as duas nações que não se conhecem, que não se encontram, que apenas se observam à distância higiénica de um preconceito. 

É nesta distância entre dois mundos que a política se perde e nos faz perder. Sobra o mito de um país orgulhoso, senhor de tanto passado, nação que deu mundos ao Mundo, mas que não passa afinal de um país miseravelmente míope. Entre a Lisboa Parque-Temático e a Lisboa Gueto Pós-Colonial qual o lugar dos portugueses? Qual a visão para o Portugal do futuro?  

(excertos do texto de Carlos Marques de Almeida, ECO)

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