É uma tendência natural pensar que nos conhecemos melhor do que as outras pessoas nos conhecem," afirma Simine Vazire, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.Contudo, as pesquisas mostram que de fato não é assim.
"Há aspectos da nossa personalidade que os outros conhecem e que nós próprios não conhecemos, e vice-versa". "Para obter um quadro completo de uma personalidade, é preciso ambas as perspectivas."
Não é que não saibamos nada sobre nós mesmos. É que o nosso entendimento é obstruído por pontos cegos, criados pelos nossos desejos, medos e motivações inconscientes.
O mais interessante é que, mesmo assistindo uma filmagem de nós mesmos, o artifício não altera substancialmente as nossas percepções - enquanto outros observando a mesma fita facilmente apontam traços que estão inconscientes.
Assim, sem grandes surpresas,os nossos entes mais chegados e as pessoas que passam mais tempo conosco conhecem-nos melhor que nós mesmos - ou, pelo menos, conhecem aspectos de nós que nós mesmos não conhecemos.
Mas não é só isso: até mesmo os estranhos têm inúmeras pistas de quem somos: roupas, preferências musicais e até postagens nos fóruns ou redes sociais deixam transparecer facetas da nossa personalidade que podem não ter consciência.
Criatividade, inteligência, e grosseria muitas vezes são melhor percebidas pelos outros.
Isso não ocorre só porque essas características percebidas pelos outros se manifestam publicamente, mas também porque carregam um juízo de valor, algo que tende a afectar o auto-julgamento.
Se isso é verdade, então por que todas estas informações que os outros têm sobre nós, e que nós temos sobre os outros, não ajudam a construir um mundo de pessoas que se entendem melhor?
Segundo as pesquisadoras, é porque as pessoas são complexas, há muitas informações sociais, e porque as percepções dos outros são obscurecidas pelas nossas próprias necessidades e preconceitos.
Além disso, a informação nem sempre está facilmente acessível: "É incrível o quão difícil é obter um feedback direto," observa Vazire, acrescentando que, com isto, não está a defender uma franqueza grosseira a qualquer custo.
O desafio, então, é usar esse conhecimento que temos dos outros para o bem. (D.S.)
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