Da esquerda à direita da governação, o domínio dos magnânimos distributivistas (os políticos dos "aumentos" dos salários e pensões sem produtividade) é notório. O BE e o PCP reservam-se: não querem estar no Governo, ainda que o sustentem. Ameaçam com rua e redes sociais, temorizando os partidos da "normalidade" para a mudança exigida. Lutam para ver quem distribui mais, com muito pouco para distribuir.
Na Europa do euro, disciplinado por alemães e pelos seus amigos do Leste, acompanhados por franceses com o seu "grandeur" de planos, mas impregnados de rigidez económica, italianos endividados uns com os outros, espanhóis divididos pelas autonomias, ingleses impreparados para o divórcio, o preço da nossa marginalidade é elevado. Não o queremos suportar, aspirámos ao seu benefício, mas fugimos da mudança necessária para sermos campeões no clube dos ricos. Preferimos alterar as regras do jogo quanto perdemos, e manter quando ganhámos.(...)
Refugiam-se num crescimento económico, ancorado em criar mais dívida. Terminada a venda de ativos mais atrativos, resta-nos o sebastianismo europeu: "Eles vão compreender que não conseguimos pagar a dívida." Os credores sabem-no tão bem como nós. Não aceitam os partidos que se sustentam com o incumprimento real ou escamoteado.
Os silêncios táticos dos sindicatos da função pública e do setor privado são o reflexo da ambivalência política. Se é verdade que a longo prazo estamos todos mortos, este regime político também o está. Sabemos que irá morrer, não sabemos é o dia e a hora. Adia o óbvio, para adiar a sua queda. A coligação política que sustenta a atual legislatura faz parte naturalmente dessa mudança. Sem ela não poderia haver mudança. Talvez assim se prove a impossibilidade do regime.
Excertos do artigo de ontem de Jorge Marrão no J Negócios
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