quarta-feira, 12 de julho de 2017

Mãos Dadas


Não serei o poeta de um mundo caduco. 
Também não cantarei o mundo futuro. 

Estou preso à vida e olho meus companheiros 
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. 
Entre eles, considere a enorme realidade. 
O presente é tão grande, não nos afastemos. 
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. 

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história. 
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela. 
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. 
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins. 
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os 
homens presentes, 
A vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

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