sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Bebido O Luar, Ébrios De Horizontes


Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer?
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver?

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

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