Um debate político bem informado, que trate os portugueses como adultos, poderia reforçar a confiança na nossa democracia.
A confusão recente à volta do corte do IRS mostra o limite da comunicação política. O debate político tornou-se tão performativo que já não interessa o que está a ser discutido. É compreensível que os políticos sejam ambíguos antes das eleições. As propostas específicas prejudicam sempre alguém. Contudo, mesmo quando se percebeu qual seria o montante do corte do IRS proposto pelo governo e quais os escalões de rendimento afetados, a atenção continua mais focada na forma como a política pública foi comunicada do que no seu conteúdo.
Não seria difícil termos discussões melhores sobre políticas públicas. Uma hipótese a considerar seria incorporar mais os modelos económicos no debate político. Na economia ortodoxa, que conheço melhor, cada pessoa pode ter modelos mentais diferentes sobre como o mundo funciona, e claro, estas visões são moldadas por preferências políticas. No entanto, modelos económicos explícitos, com fórmulas matemáticas e números, disponíveis para análise e replicação, permitem uma discussão séria sobre o que está realmente em causa. Estes modelos são essenciais para comunicarmos os nossos pressupostos, os mecanismos que pensamos ser relevantes, os valores envolvidos nas propostas de políticas públicas, e claro quem beneficia e quem é prejudicado.
O contexto atual de um governo minoritário no parlamento, onde é preciso negociar política a política, é uma oportunidade para discutir propostas com base em dados concretos. Seria benéfico até ter um organismo independente que avaliasse as políticas públicas, como alguns países têm. Mas já era bom partilhar as propostas concretas, garantir que os dados necessários estão disponíveis, e haver disponibilidade para o debate. (Gonçalo Pina, ECO)
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