Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister, e, por isso,
de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacão de mim, do Interseccionismo,
reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros, na posse plena
do meu Génio e na divina consciência da minha Missão. Hoje só me quero tal
qual meu carácter nato quer que eu seja; e meu Génio, com ele nascido,
me impõe que eu não deixe de ser.
Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma.
Pose por pose, a pose de ser o que sou.
Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva dos inferiores.
A superioridade não se mascara de palhaço; é de renúncia e de silêncio que se veste.
O último rasto de influência dos outros no meu carácter cessou com isto. Reconheci —
ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de « lançar o Interseccionismo»—
a tranquila posse de mim.
Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez. Nasci.
(Fernando Pessoa)
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